FAMÍLIA BRÓLIO

Explorando um campo novo
Seu Armando e dona Theresinha chegaram em 1974 em uma terra vermelha, no gosto para o plantio
A família Brólio foi uma das pioneiras de Campo Novo do Parecis, chegando à região no início dos anos 1970. Aliás, mais precisamente em dezembro de 1974. Mas até lá, a caminhada foi longa. Quem contou boa parte desta história é a dona Theresinha Brólio, gaúcha de Liberato Salzano, foi casada com o Sr. Armando Brólio, e tiveram sete filhos. Antes de Mato Grosso, o Paraná fez parte desta família.
“Depois do casamento, nós fomos para Capanema, no Paraná. Eu tinha um tio morando lá, e ele disse que as terras eram boas para o plantio. A gente foi trabalhar na roça, mas a chácara em que estávamos ficava distante 32 km da cidade. Após alguns anos, decidimos mudar para o Centro-Oeste”, conta.
MATO GROSSO DO SUL
A família se mudou, então, para Maracaju, à época Mato Grosso, e que após a divisão do estado se tornou Mato Grosso do Sul. “Ficamos três anos em Maracaju plantando arroz. Nos dois primeiros anos não deu para pagar as dívidas que o plantio deu. No terceiro ano, o arroz estava bonito, se desse, chuva salvava o plantio. E numa noite o Armando foi para debaixo de uma árvore e fez um pedido para que, se chovesse, qualquer lugar que ele fosse batizaria de Nossa Senhora Aparecida. E choveu, choveu tanto que fez até possa d’água no meio da plantação. Deu para pagar as dívidas e sobrou uns trocados”.
MATO GROSSO
Seu Armando e dona Theresinha não estavam satisfeitos com o que aquela terra do sul do estado lhe davam, e decidiram ir um pouco mais ao norte, especificamente em Paranatinga. “Chegamos lá, os amigos do Armando tinham reservado 500 hectares e ele não gostou porque era muita areia e cascalho. Ele comentou isso com o pessoal, e um senhor chamado Tito Olívio ouviu a prosa e perguntou se ele queria conhecer uma outra área. Tratava-se desta região em que estamos. ‘Você vai gostar de lá’, disse Tito ao meu marido. Eles vieram até Cuiabá, junto com o agrimensor, para falar com o Paulo Podolan”.
Naquela época os desafios eram enormes, principalmente porque a cidade mais próxima era Diamantino, cujas estradas de chão dificultavam muito a locomoção dos veículos. “O pai ficou interessado em saber mais sobre aquela terra, uma terra vermelha e que era da União. O sr. Tito mostrou e depois demarcou o local”, explica um dos filhos dos Brólio, Antônio.
Em grupo, foram conhecer as tais terras à beira da BR-364. O agrimensor que estava com o grupo percebeu que a partir de um certo ponto não havia mais sinal de propriedade da terra. “O Armando desceu da caminhonete em que estavam e cavucou com o canivete uns 20 cm de solo, pegou na mão e cheirou. ‘É aqui que eu quero ficar’. Ele aprendeu isso com um russo! Pousaram em Diamantino, voltaram para Paranatinga e, no dia seguinte, já carregaram a mudança na caminhonete e em um caminhãozinho. Posamos em Rosário Oeste, e chegamos no que seria Campo Novo do Parecis às 3h da tarde”, lembra dona Theresinha.
Os primeiros dias não foram fáceis. Ela conta que, em 13 de dezembro de 1974, após descerem tudo, foram procurar água para fazer a janta. Não encontraram água fácil. Quando acharam água, carregaram garrafões para o acampamento que se formava.
“Fiz um macarrão com sardinha. E eu não como sardinha desde então (risos)! Aqui era cerrado, aquele mato baixo. O Armando decidiu não ficar exatamente ali, nós fomos um pouco mais para baixo para ficar mais próximos da água. Um dos que estavam junto, sobrinho do (Zeul) Fedrizzi, foi no mato cortar as varas para armar a barraca, e aos pouquinhos fomos levando a mudança. Antes de almoçar arroz com carne, eu fui num córrego tomar banho, levei as crianças também. Pouco depois, o barraco de lona já estava armado”, detalha.
PERDIDOS NO CERRADO
O ano de 1975 estava em seu primeiro dia quando Armando e um compadre foram explorar a região. Dona Theresinha ficou no acampamento com os filhos, enquanto a dupla montou na caminhonete e se embrenhou mato adentro. “Anoiteceu e eles não voltavam, eu acendi fogueira na frente do barraco. Eles tinham se perdido no cerrado. Começou a chover e eu estava preocupada com os riscos daquela região, especialmente algum animal como onça. No outro dia, abriu o sol. Eles ficaram caminhando até que chegaram na estrada, onde ele sabia o rumo que eles estavam. Voltaram para o rumo da caminhonete, acharam água na beira da estrada, beberam e descansaram um pouco. Eles estavam muito cansados, jantaram um resto de comida que ainda estava feita e o Armando se deitou, zonzo. Não conseguia mais ficar de pé”.
E FOI CRESCENDO...
Por conta da promessa feita ainda em Maracaju, Seu Armando batizou a fazenda com o nome de Nossa Senhora Aparecida. “Algum tempo depois eles montaram uma serralheria, fizeram tábua, fizemos um galpão. Ficamos cinco meses morando debaixo de lona, daí mudamos para este galpão, com um quarto fechado e chão de terra batida. Passamos uns anos ali, plantávamos mandioca, um pouco de arroz, apenas para subsistência”.
“Nós fomos a primeira família de agricultores a chegar aqui na região para morar. Antes, eram só os índios que viviam aqui e os seringueiros que passavam pelo local”, comenta Antônio Brólio. “Em 1978, 1979, começou a sair os títulos definitivos da terra e os devidos financiamentos para a gente ‘abrir’ o cerrado e fazer as lavouras”, emenda.
Muitas pessoas, então, começaram a chegar naquela região pouca explorada, mas muito promissora. Dona Theresinha era quem fazia comida para todo o povo. Nunca faltava alimento. Outras famílias foram chegando, entre elas os Minosso e os Heidemann, além dos conhecidos Fedrizzi.
DEMARCAÇÃO
As terras da União foram demarcadas em lotes grandes até que fosse feita toda a regularização junto ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). “Nós ficamos com três mil hectares. Meu irmão, um cunhado dele e outro sócio, vindos do Rio Grande do Sul, trouxeram o primeiro trator CBT para começar a mexer na terra. Derrubar era fácil, dois tratores e um cabo de aço. Mas o que mais me satisfazia era o prazer em ajudar. Eu fiz muita comida para muita gente que aqui chegava, e nunca cobrei um real. O objetivo era ajudar quem estava chegando”, diz saudosista a esposa de seu Armando.
Mãe de Cleuza, Cládis, Clarete, Gilberto, Antônio, Armando Júnior e Roberto Carlos (in memorian), dona Therezinha jamais pensou em desistir ou voltar para trás, até porque se houvesse arrependimento, seguiriam adiante. “Um homem uma vez disse que graças a mim existe Campo Novo do Parecis, por mais que a situação não estivesse fácil. Eu sempre esperava por dias melhores para que o Armando realizasse o sonho de crescer junto a uma nova terra”, completou.
ENFIM, CAMPO NOVO DO PARECIS
Antes da municipalização, Campo Novo já tinha moradores suficientes para se emancipar de Diamantino. “Como já tinha muita gente, muitas crianças na região, trouxeram uma professora, montaram uma casinha de madeira e ela começou a dar aula para essas crianças.
A venda de terras era a preços muito acessíveis. Dona Theresinha relembra que, muitas vezes, o valor cobrado era somente para pagar a diária do agrimensor. “Era coisa de R$ 50 de hoje. Comprar um terreno de 15x30 m por esse valor, hoje em dia, é impensável”.
Quem comprava esses lotes não era nem quem já estava instalado na região, mas sim muita gente que vinha de fora em busca de oportunidades. “Começou a vir muita gente de fora, ainda não tinha uma definição de onde era o bloco certo. Aí foram projetando a cidade”, aponta Theresinha.
“Meu pai sempre com aquela visão futurista, sonhando em desenvolver uma cidade na região. Muitos riram dele, falavam que aqui era o fim do mundo. Aos poucos fomos começando a abrir fazendas, começou a vir pessoas para ajudar, e esses colaboradores precisavam de um lugar para ficar. Ele e os amigos Milton e Júlio doaram, cada um, 100 hectares para iniciar a cidade. Mesmo eu, quando era criança, não imaginava o progresso da cidade, que seria tão rápido, e está crescendo cada vez mais”, completa Antônio.
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Dados do Município

CAMPO NOVO DO PARECIS
Campo Novo do Parecis é um município brasileiro distante 401 km da capital Cuiabá, localizado no interior do estado de Mato Grosso, região Centro-Oeste. Conforme o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), sua população foi estimada em 36.143 habitantes, em 2020.
A cidade possui a 9ª maior economia do estado, com PIB (Produto Interno Bruto) dos Municípios de R$ 2.933.729.000 (aproximadamente R$ 2,93 bilhões).
A força de Campo Novo está na agropecuária, que movimenta R$ 1,1 bilhão/ano. Maior produtor nacional de girassol e pipoca, possui cerca de 42% do território destinado às safras de grãos. Dados apontam que, em 2019, foram colhidas 3,11 milhões de toneladas (t) de cana-de-açúcar, 1,18 milhão/t de milho (segunda safra) e 1,27 milhão/t de soja. Também se destacam no setor do agronegócio algodão, sorgo e amendoim.