Do carrinho à cestinha: inflação esvazia o bolso do brasileiro no supermercado

Ir no supermercado e fazer grandes compras é um ato cada vez mais incomum para o brasileiro simples, especialmente aquele que vive em baixa renda. Isso porque os preços dos principais produtos da cesta básica sobem quase que semanalmente, inviabilizando a aquisição de muita coisa.
Pressionado pela combinação de inflação, desemprego em alta e menor abrangência e disponibilidade de recursos do auxílio emergencial, o brasileiro reduziu as quantidades compradas de alimentos, bebidas e produtos de higiene e limpeza no primeiro semestre deste ano.
Houve diminuição de volumes em praticamente todas as cestas. A prioridade do consumo diário ficou concentrada nos alimentos básicos: o arroz e o feijão.
A equipe da Fator MT esteve percorrendo alguns supermercados de Sinop no último fim de semana, e o que se observou foram preços altos, e produtos tendo seus preços reajustados em até 40%.
Alguns produtos, como aqueles direcionados aos intolerantes à lactose, sofreram reajuste superior a 30%. Em uma grande rede de supermercados, o preço que era de R$ 11,29 em agosto, já chegou a R$ 15,49 em setembro.
Como as carnes sobem mensalmente, o ovo era uma alternativa. Mas a cartela de 30 unidades, que chegou a ter preço médio de R$ 12, chega a R$ 20,99 em alguns estabelecimentos.
Antes de explicar as causas da inflação, vale lembrar que o tradicional carrinho de compras e está sendo cada vez mais substituído pela cestinha, com a presença de produtos de necessidade.
INFLAÇÃO
O orçamento mais curto das famílias também mudou o consumo de itens até então não considerados tão básicos, como empanados de frango e de peixe, por exemplo.
No primeiro semestre, o produto estreou em 3,4 milhões de domicílios como uma alternativa de proteína animal mais barata à carne vermelha, que subiu 31,31% em 12 meses até agosto, segundo o IPCA-15 do mês – indicador que é uma prévia da inflação oficial do país, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
É o equivalente a três vezes a inflação geral no mesmo período (9,30%) pelo indicador da prévia da inflação.
Esse rearranjo nas compras aparece em uma pesquisa da consultoria global Kantar. Mensalmente, a consultoria tira uma fotografia da despensa de 11 mil domicílios para projetar o consumo de 58,8 milhões de lares do País.
De janeiro a junho, o volume de unidades compradas de uma cesta de 107 categorias foi 4,4% menor em relação a igual período de 2020. Mas o gasto subiu 6,9%, puxado pelo aumento médio de 11,8% dos preços desses produtos.
No curto prazo, do primeiro para o segundo trimestre, as commodities, com alta de 16%, e os perecíveis, com 15%, estiveram no topo das cestas com os maiores aumentos de preços, aponta a pesquisa.
Isso abriu caminho para que os empanados, sinônimo de praticidade, começassem a fazer parte regularmente da lista de compras de todas as classes sociais.