Trigo pode ser próxima fronteira agrícola de MT

O trigo tropical é a próxima fronteira agrícola a se desenvolver em Mato Grosso, e não apenas por ser uma opção viável de rotação com a soja.
Com efeito descarbonizante, sua importância aumenta no momento atual, em que o setor produtivo busca soluções para ampliar ainda mais as práticas sustentáveis e a redução da pegada de carbono da atividade agropecuária.
A análise foi feita pelo pesquisador Jorge Lemainski, presidente da Embrapa Trigo durante palestra na Parecis SuperAgro, realizada em Campo Novo do Parecis.
“Comprovamos cientificamente o efeito descarbonizante do trigo. Estudo de caso de 2022 considerou a associação trigo/soja e, de acordo com os dados, no cultivo do trigo houve um ‘sequestro’ de 520g de CO² e no da soja, de 884g”, pontua o pesquisador.
Um dos motivos para isso é o comportamento das raízes do trigo, que ajudam a estruturar mais o subsolo, retendo mais água e dando mais estabilidade e resiliência à lavoura.
“O que fixa a água no solo não é a palhada, mas a raiz. Por isso digo que, ao contrário do que se diz, a agricultura é parte da solução do problema do aquecimento global, e não a causadora”, argumenta.
Além dos efeitos mitigadores de carbono, existe o aspecto comercial da cultura.
“É a mesma lógica do milho. O trigo associado a culturas como a soja permite a geração de receita ao longo de todo o ano”, compara.
Embora o senso comum seja pensar na indústria da panificação como principal cliente, o trigo é matéria-prima também para a cadeia produtiva de carnes (que o emprega para produzir ração, pasto e silagem), de biocombustíveis (na produção de etanol) e de grãos (seja para exportação ou uso como planta de serviço).
CONSUMO
Em 2022, o consumo de trigo no Brasil foi de 12,4 milhões de toneladas, sendo que a produção foi de 10,6 milhões tons – ou seja: 1,8 milhão precisou ser importado.
O maior produtor nacional é o Rio Grande do Sul, responsável por 54,3% da produção em 2022, segundo dados da Conab.
Na região Centro-Oeste, Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal juntos produzem 1,8% do volume nacional (194 mil toneladas).
Em Mato Grosso, maior produtor de grãos do Brasil, ainda não há produção do cereal.