CRESCENDO COM SAÚDE

Todos os dias, em média 400 pessoas recebem algum tipo de atendimento nas estruturas de saúde de Sapezal, sejam na rede pública, em consultórios particulares ou no Hospital Filantrópico da cidade. O fluxo contínuo mostra que Sapezal tem uma saúde que atende.
A cidade que mostra proeminência na produção agrícola, sendo a incubadora dos grandes grupos do agronegócio de Mato Grosso, tem que tipo de estrutura de saúde em sua retaguarda? Afinal, por maior que seja a pujança econômica, pouco importa o saldo bancário durante um infarto, um acidente ou mesmo aquele desconforto intestinal agudo na madrugada. Viver longe dos grandes centros costuma cobrar um preço: a falta de saúde.
Para responder essa pergunta a Revista Fator MT fez um diagnóstico da estrutura de saúde que existe em Sapezal – seja pública ou privada. Apesar das limitações inerentes a uma cidade de 25 mil habitantes, os dados mostram que a rede de acolhimento instalada funciona.
De acordo com os dados do Ministério da Saúde, Sapezal possui 53 estabelecimentos de saúde. Nessa conta entram desde os postos de saúde dos bairros até os consultórios privados de odontologia. Desse total, 22 são estabelecimentos de saúde que atendem plenamente ou parcialmente pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Entre clínicas privadas de especialidades médicas ou odontológicas, são 20 estabelecimentos. A cidade ainda tem 6 consultórios médicos individuais. No apoio ao diagnóstico são 7 laboratórios e centros de imagem, sendo um deles público.
Na rede pública, a estrutura de atendimento começa pela atenção básica. O município conta com 5 Unidades Básicas de Saúde urbanas – os populares Postos de Saúde. Cada uma operando com uma equipe de PSF (Programa Saúde da Família). Há ainda uma Unidade de saúde rural e 3 postos de saúde indígena. Em abril de 2019, uma 6ª unidade de saúde estava em fase de construção, no Bairro Água Clara. Das 5 unidades existentes, 4 possuem equipes de saúde bucal, que prestam atendimentos odontológicos pelo SUS.
A estrutura instalada, seguindo a métrica do Ministério da Saúde, confere a Sapezal uma cobertura de 86% na atenção básica. Com a 6ª unidade em construção, o município chegará próximo do 100%. Segundo a secretária municipal de Saúde, Cláudia Salono, em 2018 a rede básica realizou 30,8 mil atendimentos – uma média de 85 procedimentos por dia, o que mostra um desempenho levemente acima da média.
Esses resultados são atribuídos à algumas mudanças incisivas na gestão da saúde de Sapezal. Quando assumiu em 2017, o prefeito Valcir Casagrande determinou que fossem instalados relógios pontos com leitor biométrico em todas unidades de saúde. Essa é uma estratégia utilizada por muitos gestores que em geral causa resistência e, não raro, frustração. Cidades mais distantes dos grandes centros costumam ter dificuldade
para atrair médicos e acabam se tornando reféns dos profissionais que estão no município – forçando a saúde pública a se adequar a agenda de cada doutor. “No começo quebraram o relógio ponto. Então colocamos câmeras com áudio nas unidades de saúde. Se a lei estabelece 8 horas de trabalho esse é o horário que o médico deve trabalhar. O que fizemos foi corrigir a jornada de trabalho”, explicou o prefeito.
Com os profissionais vigiados, o município fez um novo processo de seleção e um cadastro de reserva – além de apostar no credenciamento de profissionais. Segundo a secretária de saúde, a prefeitura paga um salário na casa dos R$ 20 mil para os médicos e não tem tido dificuldades em atrair profissionais para a cidade.
Toda estatística de atendimentos é gerada por um sistema administrativo que quantifica todos os procedimentos realizados na saúde do município, o que é uma importante ferramenta de gerenciamento.
Outra importante estrutura de retaguarda na saúde de Sapezal é o Centro de Especialidades Médicas. Administrado pelo município, o CEM funciona como uma policlínica, ofertando consultas com médicos especialistas.
Com o seu quadro de médicos concursados, o Centro oferece Ginecologia e Obstetrícia, Pediatria e Clínica Geral. Para ampliar a oferta de especialidades, a secretaria credencia médicos privados, de Sapezal ou de outras cidades, para clinicar de forma terceirizada no Centro de Especialidades.
Segundo a secretária de Saúde, através desse credenciamento o CEM consegue oferecer atendimentos nas áreas de urologia, neurologia, dermatologia, oftalmologia, ortopedia, pediatria, otorrinolaringologia e cardiologia. Conforme o sistema da secretaria, 5.313 consultas com especialistas foram realizadas no último ano – uma média de 14,5 procedimentos por dia. “O município também contrata procedimentos, como cirurgias eletivas. Dessa forma conseguimos, por exemplo, dar vazão a fila de 1,5 mil
pacientes que esperavam por atendimento oftalmológico. Em maio de 2019 devemos zerar essa fila”, comentou Cláudia.
Para reforçar a estrutura, o município buscou um recurso de R$ 1,6 milhão para construção de um novo Centro de Especialidades. A obra deve ser executada ao longo de 2019.
Sapezal também conta com um laboratório municipal, totalmente público, administrado pelo município. No ano passado, a unidade realizou 65,5 mil exames bioclínicos. Para suprir a necessidade de exames por imagem, a gestão recorre, mais uma vez, para a contratação junto a iniciativa privada. Dessa forma, a secretaria consegue fornecer exames de mamografia, ultrassonografia, tomografia, raio-x e ressonância magnética. Foram 12,5 mil procedimentos contratados ao longo de 2018. “Esses números devem se repetir em 2019 ou aumentar, de acordo com a demanda”, pontuou a secretária.
A cidade também conta com um Centro de Reabilitação de nível 2, além de uma Farmácia de Dispensação de Medicamentos.
O que foge da saúde básica e da média complexidade, é preciso recorrer a outros centros de saúde. O Hospital Regional de referência para Sapezal fica em Cuiabá, na capital do Estado. Também existe alguma estrutura de Saúde na cidade vizinha, Tangará da Serra. Para operacionalizar esse encaminhamento e transporte de pacientes a secretaria de Saúde de Sapezal conta com 8 ambulâncias – além de um ônibus para os pacientes que precisam de consultas com especialistas que não atendem no município. Para o socorro de acidentados a cidade conta com uma unidade descentralizada do SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), que é integrado à regional de Tangará da Serra.
Embora haja uma relativa ausência do Governo do Estado na saúde de Sapezal, o município ainda conta com o legado de altruísmo deixada pelos seus fundadores.
Filantrofia Milagrosa
No final da década de 90 o Grupo Amaggi – fundadores da cidade - construiu um Hospital em Sapezal, que passaria a atuar de forma filantrópica: atendendo toda a população e tendo parte dos seus custos financiados pelo SUS. Por 18 anos a estrutura funcionou sob a tutela das Irmãs Servas do Espírito Santo – uma congregação de missionárias católicas de origem holandesa que atuam no Brasil em prol da população desde 1902.
Em novembro do ano passado a missão das Servas do Espírito Santo foi encerrada. Uma nova congregação católica assumiu a administração da unidade em caráter temporário. As chaves do Hospital de Sapezal foram transmitidas para a Ordem das Irmãs de Santa Marcelina – criada em Milão no final do século 19 e que atua no Brasil desde 1912.
O Grupo de Missionárias administra 4 hospitais em São Paulo, sendo o maior com 800 leitos; além de um Hospital em Porto Velho (RO), com 150 leitos, onde há um Leprosário.
Em abril de 2019, a nova congregação ainda estava avaliando se sua passagem por Sapezal seria temporária ou definitiva. Segundo a Irmã Rosane Ghedin, diretora Presidente da Ordem Santa Marcelina, a congregação buscava entender a demanda e as necessidades da estrutura. “O que já percebemos é que o hospital tem um potencial enorme”, afirmou Rosane.
Para a diretora presidente da Ordem, já é evidente que a cidade precisa do Hospital e por isso Sapezal está sendo priorizada. O fato da unidade não possuir dívidas pregressas foi apontado como um fato positivo, mas existiam dúvidas quanto a participação do poder público no custeio do Hospital. “Esse Hospital precisa atender todas as pessoas da cidade, não apenas quem não tem condições de pagar. Não é um hospital que vai funcionar para os pobres. É um hospital que vai funcionar para todos, porque não existe outro”, declarou a Irmã.
Em abril de 2019, cerca de 90% dos atendimentos realizados no Hospital eram pelo SUS. Os 10% restantes é porque parte da estrutura acaba sendo sublocada para iniciativa privada.
A unidade é referência para baixa e média complexidade. A estrutura conta com 68 leitos de internação e 3 salas de cirurgia, onde são realizados cerca de 70 procedimentos por mês. Quem nasce em Sapezal, sejam filhos de quem vive no município em ou cidades vizinhas, dá o seu primeiro choro no centro cirúrgico do Hospital.
Uma parte importante do Hospital Filantrópico é o Pronto Socorro, que opera 24 horas. Cerca de 2 mil atendimentos são realizados por mês. A estrutura opera com 2 pediatras, 2 clínicos geral e 6 médicos de sobreaviso. “São profissionais capacitados para atender qualquer tipo de urgência e emergência. Nos casos que não podem ser resolvidos na unidade, por falta de estrutura, a equipe médica estabiliza os pacientes e providencia a regulação para que sejam transferidos para unidade de referência mais próxima”, explica a diretora.
Na parte de diagnósticos o Hospital conta com tomogafia, ultrassonografia, eletrocardiograma e Raio-X.
Segundo a Irmã Rosana, o plano futuro da congregação para Sapezal, caso venha assumir o Hospital é criar novas referências e expandir a unidade, afim de garantir o acesso à saúde não apenas da população local, mas do entorno. “Há uma demanda regional de atendimentos. Mesmo sendo filantrópico o Hospital precisa de recursos para manter equipes médicas de qualidade e equipamentos que possam garantir um bom atendimento de saúde. Os valores que o SUS repassa, nem sempre são suficientes. Buscar convênios com o município, o Estado e a colaboração da iniciativa privada é fundamental para que se consiga fazer uma saúde com dignidade”, pontuou a diretora da congregação.
A vocação de Sapezal para ser um pólo regional de saúde também vem sendo percebida pela iniciativa privada.
Saúde privada com agenda cheia
Além das estruturas que atendem pelo SUS, Sapezal tem uma rede de saúde privada que cresce a cada ano. Até o momento são 31 estabelecimentos particulares estabelecidos no município.
Boa parte destes são consultórios como do médico Celso Vargas Reis. Especialista em obstetrícia, Celso é o doutor que ajuda a trazer os novos sapezalenses à vida. Ele chega a realizar 50 partos por mês. “O recorde foram 9 em um mesmo dia”, conta.
Procurando uma vida mais tranqüila, com menos violência, o médico se mudou para Sapezal há 2 anos, quando abriu seu consultório. Ele também realiza partos pelo SUS, no Hospital Filantrópico, onde presta serviço. Mesmo os partos particulares são realizados no centro cirúrgico da unidade.
Celso tem agenda cheia. A brecha para entrevistá-lo foi no horário do almoço. Segundo ele, boa parte das consultas com plano de saúde. “Unimed é muito forte na cidade”, acrescentou.
No seu consultório cerca de 30% dos pacientes são de outras cidades, como Campos de Júlio e Comodoro. “Embora a chegada de novos profissionais nos últimos anos tenha dado mais segurança e assistência à população, ainda existe muita demanda para ser explorada”, avalia o médico.
A avaliação do obstetra é similar a da Irmã diretora do Hospital e a do prefeito da cidade. Sapezal pode estar longe de ser um polo regional de saúde, mas tem vocação para sê-lo.
Dados do Município

SAPEZAL
Sapezal está localizada no interior de Mato Grosso, distante 509 km da capital Cuiabá, região Centro-Oeste. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2020, sua população é estimada em 26.688 habitantes.
A cidade possui a 11ª maior economia do estado, com PIB (Produto Interno Bruto) dos Municípios de R$ 2.516.823.700 (aproximadamente R$ 2,51 bilhões).
O município é um dos principais produtores de algodão do estado. Dados de 2018 do IBGE apontam para uma área plantada de 168,2 mil hectares (ha), com 756,9 mil toneladas colhidas. A soja também se destaca, com plantio em 355 mil ha e uma produção superior a 1,23 milhão de toneladas. Além destas, outras culturas também se destacam na produção de comodities, como milho, girassol, arroz e feijão.
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