BR-163 elevou Sinop para outro patamar na economia

Capital do imenso estado, que não se dividira (só viria a acontecer em 1979]) Cuiabá é o ponto de partida de uma rodovia que interligaria o Centro-Oeste às regiões centrais do Pará. Anos mais tarde, ela teria fundamental importância a diversos municípios, incluindo Sinop.
A rodovia Cuiabá-Santarém constitui-se em pré-requisito para a ocupação de uma imensa área do Médio-Norte e Norte mato-grossense e Sul do Pará pelos migrantes da região Sul do país.
A história da BR-163 começa em 16 de junho 1970, através do decreto lei nº 1.106, foi lançado o Programa de Integração Nacional (PIN). Sua criação é um marco da ação mais ostensiva do Governo Federal sobre a região Amazônica.
O PIN previa três diretrizes importantes para serem implantadas, e uma delas era a abertura das rodovias Transamazônica (ligando o Nordeste e Belém-Brasília à Amazônia ocidental – Rondônia e Acre) e Cuiabá-Santarém (ligando Mato Grosso à Transamazônica e ao porto de Santarém).
As obras de construção da BR-163 tiveram início em 1971, partindo de Cuiabá em direção ao Norte e, ao mesmo tempo, de Santarém no sentido Sul. Sua construção ficou sob responsabilidade do 9º BEC (Batalhão de Engenharia de Construções do Exército), sediado em Cuiabá, e do 8º BEC, sediado em Santarém.
É nesse período que várias empresas colonizadoras (entre elas a Colonizadora Sinop) já estavam se estabelecendo e abrindo cidades às margens da rodovia.
No projeto original, a BR-163 deveria passar onde seria implantada a cidade Vera, porém, interesses econômicos e influência política levaram seu traçado original mais a Oeste, beneficiando Sinop e demais cidades que nasciam em seu eixo.
A passagem de caminhões propiciou a expansão do comércio local, que via a roda da economia girar, trazendo ainda mais gente interessada em crescer pessoal e profissionalmente.
RELEVÂNCIA ECONÔMICA
Sinop não se caracteriza por grandes lavouras, mas é muito forte no agronegócio. Isso acontece em boa parte por conta da BR-163, corredor logístico que margeia o município e leva e traz implementos, insumos, maquinário agrícola, entre outras coisas que são vitais para o desenvolvimento da agricultura e pecuária na região.
De acordo com dados de 2021 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o PIB (Produto Interno Bruto) per capita era de R$ 64.607,12.
Números divulgados pela Prefeitura mostram que o volume de negócios promovido pelo agro chega à casa de US$ 640,9 milhões (R$ 3,1 bilhões) em exportações, que são destinadas a mais de 20 países.
O dado representa 6,3% do total do estado de Mato Grosso, garantindo a Sinop a terceira posição no ranking dos municípios que mais vendem produtos para o exterior.
A China é o principal cliente de Sinop, com 46% de participação, seguido de Espanha (6,6%), México e Holanda (4,9%), Argentina (4,6%), Reino Unido (4%), Portugal (3,6%), Colômbia (3,4%), Israel (2,4%), Turquia (2,1%), Argélia (2%), entre outros em menor participação.
Ainda conforme os dados oficiais, a soja é o carro-chefe com 82% de participação, seguida pelo milho (15%) e carne bovina com (1,8%).
A madeira, que por duas décadas sustentou a balança econômica do município, atingindo cerca de 600 indústrias madeireiras, ainda figura como fonte de renda na economia.
E muito (quase tudo) disso é possível graças à localização privilegiada. A BR-163 é rota obrigatória para levar as commodities até os principais portos brasileiros rumo ao exterior.
Ao todo, 19 municípios estão compreendidos na extensão concedida, entre eles a capital mato-grossense, Cuiabá, e as cidades de Nova Mutum, Lucas do Rio Verde, Sorriso e Sinop, principais produtores de agrícolas do estado campeão na produção de grãos e leguminosas.
DUPLICAÇÃO ATÉ CUIABÁ
Após o início das obras, foram 5 anos para a conclusão da rodovia – pista única – que, em 20 de outubro de 1976, foi oficialmente inaugurada com 1.777 km de extensão, dos quais 760 km estão em território mato-grossense.
Até hoje, uma das principais lutas de diversas classes (políticas e empresariais) é pela duplicação do trecho mato-grossense da rodovia, que hoje é o principal corredor logístico para escoamento de grãos para os portos do Sul e Sudeste.
Entre os pontos que sustentam a cobrança estão:
- Crescimento do agronegócio: tem levado a um aumento significativo no tráfego de veículos e caminhões na rodovia. O transporte de produtos agrícolas, pecuários e outros materiais sobrecarrega a rodovia, resultando em congestionamentos e atrasos;
- Segurança: a duplicação pode proporcionar faixas adicionais, acostamentos adequados e condições mais seguras para o tráfego, reduzindo assim o número de acidentes com vítimas e melhorando a segurança viária;
- Eficiência Logística: a duplicação vai oferecer uma maior capacidade de transporte, facilitando o escoamento da produção agrícola e outros bens. Isso contribui para a eficiência logística, reduzindo custos de transporte e melhorando a competitividade dos produtos da região.
- Desenvolvimento Regional: a melhora na infraestrutura rodoviária vai impulsionar o desenvolvimento econômico regional. Além de Sinop, outras cidades ao longo da rodovia podem se beneficiar do aumento da conectividade, atraindo investimentos, gerando empregos e promovendo o crescimento econômico sustentável.
Atualmente, entre Sinop e Cuiabá, a rodovia é duplicada apenas em alguns trechos, como entre Rosário Oeste e o Posto Gil; e nas travessias urbanas de Nova Mutum e Sorriso. Em Sinop, a parte duplicada é de 16 km, das proximidades do Jardim Viena até próximo à Avenida Senador Jonas Pinheiro (antiga Perimetral Norte).
SENTINDO NORTE
Além de duplicar a rodovia para o Sul, há interesse significativo na melhoria das condições de tráfego e pavimentação no trecho paraense da BR-163.
Em termos de comércio exterior, os portos do Arco Norte representariam economia no frete e menor tempo de transporte. A distância de Sinop para o porto de Santarém é de 1.260 km, trajeto 330 km mais curto se citarmos o porto de Miritituba, distrito de Itaituba.
Além disso, há um importante fator para se pensar ainda mais no escoamento da produção pelo Norte do que pelo Sul/Sudeste do país: a saturação dos portos, especialmente de Santos e Paranaguá. Neste, se formam, constantemente, gigantescas filas de carretas para desembarcar grãos. Situação diferente de Santarém, que vem aumentando a demanda, mas ainda possui capacidade de ampliação. Portanto, a pavimentação da BR-163 é quesito fundamental para o fortalecimento das exportações mato-grossenses e sinopenses, em especial.
PREENCHER UM ‘VAZIO’
A construção da BR-163 resultava em uma ação efetiva do Estado para incorporar o “vazio” amazônico aos centros desenvolvidos do Brasil. Sua análise de construção pode contribuir para compreender alguns aspectos desse processo.
Esse “vazio”, ao qual os textos e discursos dos governos militares se referem, negava a existência de mais de 170 nações indígenas, desconhecendo que esse território era terra desocupação antiga, que abrigava posseiros, garimpeiros, populações quilombolas, entre outros indivíduos.
Ocupar esses “vazios” amazônicos em “prol da segurança interna” era uma saída interessante para o Governo dar vazão às populações oriundas dos diversos problemas, enfrentados por nordestinos e sulistas, ligados às condições climáticas, conflitos no campo, empobrecimento dos pequenos proprietários que se intensificava devido ao avanço da mecanização do campo, além da necessidade de capitalização.
Ao longo de seu percurso seriam instalados os projetos de colonização (para pequenos e médios produtores) e os projetos agropecuários (para atender os grandes empresários). Porém, o objetivo não era simplesmente de integrar os pontos mais distantes do país à economia e ao desenvolvimento do país.
Para o Governo Federal, as rodovias e os projetos de colonização faziam parte de um plano estratégico, visando a segurança e controle sobre todo o território nacional, para evitar focos de organização armada, guerrilhas e o movimento “espontâneo e rebelde” na ocupação de terras (“ocupar para não entregar”).
Fontes: Raízes da História de Sinop (Luiz Erardi F. dos Santos) e sites do IBGE e Prefeitura de Sinop