Os anos pré-Sinop

São poucas as cidades no país que têm nome de sigla. Sinop é uma delas, carregando no nome a empresa que lhe deu origem: Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná.
Talvez nem os próprios representantes da Colonizadora poderiam imaginar que, meio século depois, a cidade despontaria como a quarta maior do estado em tamanho e economia, e atualmente a quarta do país para fazer negócios no comércio.
Por isso, para entender as origens, vamos contar como foi que tudo começou, até efetivamente Sinop ser fundada.
“INTEGRAR PARA NÃO ENTREGAR”
No início da década de 1970, quando o Brasil vivia sob o regime militar e tinha como presidente o general Emílio Garrastazu Médici, a ocupação da Amazônia (que engloba todos os estados do Norte, além de parte do Maranhão e Mato Grosso) era anunciada como um imperativo da segurança e da integração nacional, além de ser uma fórmula capaz de resolver os problemas sociais crônicas que assolavam o Nordeste e começaram a se intensificar no Sul.
No plano de integração nacional, arcabouço de toda a estratégia do Governo Federal para a Amazônia, a abertura das rodovias Transamazônica, com mais de 3 mil km de extensão, a Cuiabá-Santarém, Cuiabá-Porto Velho, entre outras, seria parte de uma ação coordenada por vários órgãos do Governo com o objetivo de absorver a mão de obra nordestina disponível em grande quantidade, especialmente em razão das secas periódicas da região, e ao mesmo tempo promover novos fluxos migratórios de agricultores, tanto do Nordeste como do Sul do país, para uma vasta região coberta pela majestosa floresta amazônica, praticamente intocada.
Além disso, atrair migrantes para as frentes de trabalho também objetivava fixa-los na região, povoando uma região que chamava atenção de países da Europa e, principalmente, dos Estados Unidos. Por isso, o “programa” o slogan adotado pelo Governo Federal à época foi “integrar para não entregar”.
Inicialmente, estavam projetadas ‘agro-vilas’, pequenas comunidades de agricultores implantadas ao longo das rodovias e que deveriam receber toda a assistência do Poder Público. Começaria por doação de terras, equipamentos e sementes.
Porém, o programa desandou quando algumas dessas promessas não foram cumpridas, além da aprovação de mega projetos agropecuários de grandes empresas nacionais e multinacionais que chegaram a alterar a paisagem amazônica: onde deveria haver pequenas e médias plantações, vilas e cidades, surgiram gigantescos desmatamentos para o plantio de pasto.
Ao mesmo tempo, o Governo colocou em prática a política de ocupação da Amazônia, dirigida e tutelada pelo Estado, também abriu espaço para iniciativas particulares, atraindo empresários e colonizadoras para a região por meio de financiamentos, incentivos fiscais e obras de infraestrutura.
Uma dessas áreas tem origem no Núcleo de Colonização Celeste, de propriedade de Jorge Martins Phillip. O projeto de colonização foi desenvolvido em uma área de 369.017 hectares, onde foram implantadas as cidades de Vera, Santa Carmem e a cidade que recebeu como nome a sigla da colonizadora, Sinop. Pouco tempo depois, a Colonizadora incorpora à Gleba Celeste outra área com 275.983 hectares, onde seria implantada a cidade de Cláudia.
Segundo a Secretaria de Estado de Planejamento, em 1971, Ênio Pipino, junto com João Pedro Moreira de Carvalho, que representavam a Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná (Sinop), adquiriram as terras de Phillip. Ênio trazia consigo a experiência da formação de 18 cidades no Paraná e montou uma estrutura mista de colonização: atividade agropecuária e indústria de transformação.
A estrutura agropecuária constava de secções: Vera, Sinop (Gleba Celeste), Santa Carmem e Cláudia. Cada uma delas teria um centro populacional. Em volta do centro, a curta distância, chácaras. Mais ao longe, lotes rurais. A estrutura industrial teria a sede em Sinop.
ABERTURA DA GLEBA MERCEDES
O ano era 1970. A Colonizadora Sinop inicia, por via aérea e via fluvial, o reconhecimento da Gleba Celeste para elaborar o projeto de colonização.
Um contingente de aproximadamente 400 homens, tendo à frente o topógrafo gerente geral da empresa Ulrich Grabert, e pelo agrimensor Carlos Benito Spadoni, percorre os rios Verde e Teles Pires até o local conhecido como “cachoeirão”, pouco abaixo da ponte que atualmente liga Sinop a Juara, e dá início aos trabalhos de demarcação das terras pertencentes à Gleba.
No ano seguinte, Grabert e Spadoni voltam à região para abrir as áreas onde seriam implantadas as cidades de Vera, Santa Carmem e Sinop. A equipe parte de Cuiabá em direção ao Posto Gil; dali, rumo para o Nortão do estado pela estrada Rio Novo, que se estendia até a Fazenda Ubiratã, nas proximidades do Rio Tartaruga. Foram dois dias para o grupo percorrer os 340 km desta estrada.
A partir da Fazenda Ubiratã, o grupo de trabalho continua avançando em direção ao Norte através da abertura de picadas, agora já em plena Floresta Amazônica. Foram abertos 52 km até a Gleba Celeste, onde seria implantada Vera, e por onde, pelo projeto original, deveria passar a BR-163. [Por interesses econômicos e influência política, seu traçado original foi alterado mais a Oeste]
Só para abertura deste trecho, foram 40 dias!
Em abril de 1972, o grupo de trabalho dá início à abertura de outra picada em direção à área da Gleba onde foi projetada a implantação de Sinop.
Em razão do trabalho manual, da necessidade de transpor vários rios e de várias adversidades da região amazônica, foram gastos 30 dias para a abertura da picada até o local onde se encontra atualmente o viaduto da BR-163 na entrada principal de Sinop. Esta picada deu origem à Estrada Rosa, e em seus 20 km finais para a Sinop logo depois viria a ser implantada a rodovia Cuiabá-Santarém.
Finalmente, após dois anos, era hora de iniciar a abertura da área urbana de Sinop.
Fontes: Raízes da História de Sinop (Luiz Erardi F. dos Santos) e sites do IBGE e Prefeitura de Sinop